No dia 19 de outubro, iremos comemorar mais um aniversário de nascimento de Vinicius de Moraes, poeta, diplomata, jornalista, compositor e intérprete da MPB e um dos criadores da Bossa Nova.
Por mais estranho que possa parecer, o saudoso poetinha teve uma intensa relação de amor com o Jazz, quando viveu nos Estados Unidos, mais precisamente em Los Angeles, entre os anos de 1946 e 1951, exercendo funções diplomáticas, como vice-cônsul, e de lá escrevia textos e artigos muito interessantes para as revistas e jornais brasileiros, falando sobre a sua descoberta pelo gênero. Para descrever este período ainda pouco conhecido da vida de Vinicius de Moraes, foi lançado o livro “Jazz & Co.”, pela Editora Companhia das Letras e que contou com a organização, prefácio e notas do competente Eucanaã Ferraz. O formato do livro, que lembra um disco “compacto simples”, traz também belas fotos e um ousado projeto gráfico, que surpreende pelo bom gosto. Dividido em 3 partes: “Jazz Jazz” (melhor parte do livro e a mais extensa com vários textos importantes), “Jazz & Cinema” (uma compilação de suas resenhas sobre os musicais da década de 40 que tinham o Jazz como base de suas músicas) e “Jazz & A América” (composta apenas de poemas), o livro, nas suas 152 págins, nos leva a uma deliciosa viagem pelo tempo, ao lado deste ser humano genial que escreveu sobre a turma do cinema de Hollywood e sobre o pessoal do Jazz. Uma reunião muito interessante de textos, reportagens e poemas, inclusive, com alguns inéditos. Ele escreveu com absoluta propriedade, afinal, pode vivenciar ao vivo, nos bares e casas de shows mais importantes da época, grandes momentos musicais. Ele, literalmente, bebeu na fonte e teve a sorte e a competência
(pois estava no lugar certo, na hora certa), podendo conhecer vários personagens importantes. E Vinicius foi um dos primeiros a falar de Jazz no Brasil e conseguiu traçar rotas paralelas por onde andaram o Jazz e a Bossa Nova.
Seus amigos: o cineasta Orson Welles, Carmen Miranda, o trompetista e cantor Louis Armstrong (seu grande ídolo), a cantora Sarah Vaughan, que estava no início de carreira, e por lá, pôde acompanhar o nascimento do “Bebop” e do “West Coast Jazz” e ouvir por repetidas vezes, apresentações da cantora Billie Holiday E a sua definição sobre Jazz, dada no início dos anos 50, é muito interessante: “Jazz, de início, é tudo o que não é Bing Crosby, Frank Sinatra, Doris Day (...) Jazz, por outro lado, é qualquer coisa que saia do trompete de Louis Armstrong ou de suas cordas vocais. É qualquer trecho de qualquer peça do criador do boogie, o fabuloso Jimmy Yancey. É a clarineta do George Lewis, é o piano do imortal Jelly Roll Morton, a bateria do telúrico Zutty Singleton. Jazz, minha amiga, é justamente esse galo que você ouviu cantar e não sabe onde”.
Um ponto curioso que me chamou à atenção é o fato de Vinicius de Moraes não gostar de George Gershwin, um dos compositores mais importantes de todos os tempos e curiosamente um dos preferidos do seu grande parceiro na Bossa
Nova, Tom Jobim. E os amores na vida de Vinicius foram muitos e eternos enquanto duraram. Foi assim que ele nos ensinou. Para sempre, Vinicius. Para sempre, o Jazz.