No último dia 19 de outubro, o nosso saudoso “poetinha” Vinícius de Moraes completaria 104 anos de vida. Ele nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1913 e, depois de desfrutar de forma intensa e poética os seus 67 anos de vida, ele nos deixou mais precisamente no ano de 1980.
Vinícius era plural, escritor, compositor, dramaturgo, poeta, jornalista, diplomata, boêmio ou simplesmente único.
Homem de muitas paixões, passava horas dentro da sua banheira tomando uísque, gostava de bons restaurantes, de futebol e amava estar no palco, descontraidamente, sentado na sua mesinha branca, hoje em poder do querido amigo Genildo Fonseca, competente produtor e empresário do Toquinho, que a ganhou numa rifa patrocinada por Fred Rossi, grande empresário de shows.
Seu grande amigo e parceiro mais duradouro, Toquinho, me contou numa conversa como ganhou a confiança de Vinícius, em 1971, para musicar o tema “Tarde em Itapoã”, uma das minhas músicas favoritas e que estava prometida para Dorival Caymmi. Ele conta que a letra estava dando sopa na máquina de escrever Olivetti na casa de Vinícius em Salvador e como ele queria muito musicar aquele poema, que continha uma belíssima estruturação de rimas, não pensou duas vezes. Pegou a letra e levou para São Paulo só a devolvendo três dias depois. Não mexeu em qualquer sílaba do texto original e quando ele voltou à Bahia entregou a melodia pronta para o poeta. Vinícius ouviu por várias vezes e não falou nada. Até quando ouviu o pessoal da sua casa cantando o tema repetidamente. Era o sinal que faltava para sua aprovação. Toquinho havia então conseguido fazer Vinícius desistir de entregar a música para Dorival Caymmi e a partir daí uma das parcerias mais importantes da nossa MPB teve início.
Outras importantes parcerias também aconteceram ao lado de Tom Jobim (A Felicidade, Água de Beber, Ela é Carioca, Garota de Ipanema, Insensatez, Por Toda Minha Vida, Soneto da Separação), Carlos Lyra (Coisa Mais Linda, Minha Namorada, Sabe Você, Você e Eu), Baden Powell (Berimbau, Canto de Ossanha, Consolação, Deixa, Samba da Bênção, Samba em Prelúdio, Samba Triste, Tem Dó), Edu Lobo (Arrastão, Canção do Amanhecer, Canto Triste), Francis Hime (Maria, Samba de Maria, Saudade de Amor, Sem Mais Adeus), além do próprio Toquinho (Aquarela, Carta ao Tom 74, Como Dizia o Poeta, Pela Luz dos Olhos Teus, Regra Três). Um repertório de mais de 300 pérolas da nossa MPB e que até hoje são intensamente executadas e regravadas por diversos artistas.
Vinícius amou a vida, considerada por ele como a “arte do encontro”, e sempre rompeu as convenções sociais, e tinha forte no coração o sentimento de mistura e comunhão.
Trouxe a poesia mais formal para a popular, misturou ritmos brancos e negros, uniu religiões e crenças, assim como fez com a aristocracia e a boêmia. Penso que não tem nada melhor do que viver a vida apaixonadamente. Viver o amor em suas diversas formas é fundamental para todos nós. Então caro Vinícius, parabéns pela tua eterna juventude e sábia inspiração. Saudades de ti, querido “poetinha”.