O JAZZ NO CINEMA – PARTE 3
Selecionei esta semana mais dois filmes incríveis dirigidos pelo versátil produtor, ator, diretor e músico Clint Eastwood, que considero como um dos mais completos profissionais que atuam no cinema. O primeiro filme, “Bird”, lançado no ano de 1988, retratou com muita precisão a vida do saxofonista Charlie Parker, apelidado carinhosamente de “Bird”, considerado como uma das maiores lendas do Jazz de todos os tempos. Sua arte e sua vida cercada de drogas, álcool e amores foram interpretadas pelo talentoso e surpreendente ator Forest Whitaker, que conseguiu reviver com absoluta precisão este personagem tão intenso e vibrante.
O elenco contou também com Diane Venora (Chan Parker), Samuel E. Wright (Dizzy Gillespie), entre outros nomes importantes.
É importante lembrar que Clint Eastwood é fascinado por Charlie Parker e sua música, desde quando ele viu tocar a lenda ao vivo numa apresentação, em Oakland, no ano de 1945. Que grande privilégio e uma cena absolutamente inesquecível.
O que mais chamou a atenção no filme, além da trilha sonora, foi a forma como Whitaker reviveu o músico.
Foi uma interpretação assustadora. Ele incorporou literalmente o personagem, sua postura, seus gestos e até a digitação do instrumento. Ao ver o filme, temos a sensação exata de que ali está Charlie Parker e não um ator.
O segundo filme que destaco é “Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal”. O nome do filme pode parecer estranho, mas reuniu artistas de peso com John Cusack, Kevin Spacey, Jude Law entre outros nomes.
O drama foi lançado no ano de 1997 e conta a história de um jornalista de Nova York (John Cusack) que viaja a Savanna – Geórgia para fazer uma matéria sobre um figurão que se tornou a pessoa mais importante da cidade (Kevin Spacey).
Ele acreditou ter em suas mãos uma excelente oportunidade para escrever uma grande história. E o filme destaca falsos moralismos e conveniências sociais, com uma trama inteligente, cheia de mistérios.
Ambientado no início dos anos 80, o filme trata de um misterioso assassinato e, como não poderia deixar de ser, tem uma trilha sonora sensacional, com vários nomes importantes e gravações surpreendentes.
Duas dicas imperdíveis de trilhas sonoras do cinema que tem o Jazz com grande destaque.
Bird – “Original Soundtrack”
A primeira vez que ouvi este disco foi quando tinha 14 anos, ainda no formato LP e tenho que confessar que nunca me esqueci da sonoridade mágica das suas 12 faixas instrumentais. É um dos trabalhos de Tom que mais gosto. Na verdade, sou suspeito, pois toda a discografia do maestro é perfeita e inquestionável. Este disco foi lançado originalmente em 1963, pela gravadora americana Verve, e foi o 1º. trabalho de Tom Jobim lançado no EUA (na época em que a Bossa Nova estava em alta por lá) e contou com a produção do genial Creed Taylor, que apresentou e recomendou a participação do também genial arranjador alemão Claus Ogerman.
O resultado musical foi perfeito e dessa parceria com Ogerman, nasceu uma afinidade/amizade que durou 17 anos (1963 – 1980), possibilitando a realização em parceria de vários discos primorosos.
Não tenho dúvidas em afirmar que Claus Ogerman tornou-se o arranjador predileto de Tom, afinal foi com quem ele mais trabalhou ao longo da sua carreira. Os solistas principais: Leo Wright na flauta, Jimmy Cleveland no trombone, George Duvivier no contrabaixo, Edison Machado impecável na bateria, uma imposição de Tom, para preservar a nossa batida exclusiva e uma orquestra de cordas afinadíssima. Em 1964, o mesmo disco foi lançado no Brasil pela gravadora Elenco com o título “Antonio Carlos Jobim”, inclusive com uma capa diferente da original. Não deixe de ouvir este trabalho único e definitivo de Tom Jobim, hoje já disponível em formato de CD, totalmente remasterizado. Garanto que será amor à primeira vista, ou melhor amor à primeira audição. Assim como aconteceu comigo.
Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal – “Original Soundtrack”
Leia o livro, veja o filme e, principalmente, ouça a trilha sonora. Você pode fazer tudo isso com esse filme que tem uma história bem menos assustadora do que o nome traduzido sugere.
Lançada em 1997 pelo Selo Malpaso/Warner Bros., a trilha está recheada de composições de Johnny Mercer (1909-1976), compositor americano que nasceu e foi enterrado em Savannah, cidade onde foi rodado o filme.
A escolha do repertório foi proposital e contou com a criatividade e grande sensibilidade musical de Clint Eastwood.
São 14 faixas belíssimas. A começar pela sempre surpreendente cantora canadense K.D. Lang com “Skylark”. A saudosa tia do ator George Clooney, Rosemary Clooney, com “Fools Rushes In” e também merecem destaque os cantores Tony Bennett com “I Wanna Be Around” e Joe Williams com “Too Marvelous For Words.
As surpresas que aponto ficam por conta da bela voz da filha de Clint Eastwood, Alison Eastwood, com “Come Rain Or Come Shine”, e o talento vocal surpreendente do ator protagonista do filme, Kevin Spacey, com “That Old Black Magic”. Até Clint Eastwood deu uma “canja”, cantando “Ac-Cen-Tchu-Ate The Positive”. Não decepcionou.
Importante lembrar também da importante presença do saxofonista Joshua Rredman, com “I'm An Old Cowhand (From The Rio Grande)”, da cantora Cassandra Wilson com o clássico “Days Of Wine And Roses”, da pianista e cantora canadense Diana Krall em “Midnight Sun” e do excepcional cantor Kevin Mahogany em “Laura”.
Uma trilha obrigatória, recheada de grandes temas e intérpretes variados, que dão ao disco um ar de diversidade e qualidade.