O nome do livro não poderia ser mais criativo. E foi inspirado no slogan do programa de rádio que ele apresentou por onze anos, chamado “Programa do Zuza”, veiculado na Rádio Jovem Pan de São Paulo e que dizia “ele tem música nas veias”.
Falo do jornalista, radialista, escritor, pesquisador, produtor e músico Zuza Homem de Mello, uma destas pessoas especiais que encontramos na vida e que conhecem muito do universo fascinante da música brasileira e americana.
Ele, que abriu com muita competência a edição 2016 do RIO-SANTOS BOSSA FEST, dando uma verdadeira aula de MPB, com a palestra “Caminhos Cruzados: João Gilberto e Tom Jobim” Inesquecível.
Em 2007, ele lançou pela Editora 34, um livro de memórias e ensaios chamado “Música nas Veias”, que conta histórias deliciosas, revelando os segredos dos bastidores de quem viveu verdadeiramente grandes e marcantes momentos musicais.
Resolvi resumir uma destas histórias com a intenção de deixar você com vontade de devorar o livro inteiro.
Para mim, foi reveladora, afinal, descobri que Zuza, na juventude, foi um esforçado contrabaixista que teve a honra e o privilégio de quando morou nos Estados Unidos no ano de 1957, conhecer, ter aulas e desenvolver uma grande amizade com o seu maior ídolo, o incrível contrabaixista Ray Brown, que simplesmente foi um dos maiores músicos da história do Jazz. E que, segundo o próprio Zuza, foi um grande “gentleman” e seu grande mestre.
E o primeiro conselho que Ray Brown lhe deu, na sua primeira aula na School Of Jazz de Lenox, Massachussets, foi o seguinte: “Para aprender o que é swing, você tem que ouvir os discos da orquestra de Count Basie dos anos 30 e 40”.
Ele conta no livro que Ray Brown saiu de Pitstsburgh e foi para Nova York e logo na primeira noite na cidade na famosa Rua 52, pode assistir aos pianistas Errol Garner e Art Tatum, a cantora Billie Holiday, o saxofonista Coleman Hawkins e seu amigo pianista Hank Jones. E nesta mesma noite recebeu um convite que mudaria o destino da sua vida, quando o trompetista Dizzy Gillespie o convidou para um trabalho, sem nunca tê-lo visto tocar. Ele simplesmente tocaria com a nata do Bebop. Além de Dizzy, Bud Powell no piano, Max Roach na bateria e Charlie Parker no saxofone. Ou seja, no segundo dia em Nova York, com apenas 19 anos de idade, ele não podia reclamar da sorte.
Foi casado com Ella Fitzgerald, tocou com o pianista Oscar Peterson, Quincy Jones, Duke Ellington e simplesmente participou de mais de duas mil gravações em sua vida.
Zuza tocou até meados de 1959 e seu contrabaixo foi vendido para outro grande músico, o saudoso contrabaixista Luiz Chaves, que durante muitos anos foi o coração do Zimbo Trio no Brasil e no exterior.
Tive a honra de estar com o Zuza algumas vezes e, mais uma vez no RIO-SANTOS BOSSA FEST, pude desfrutar de toda a sua sabedoria e simplicidade. Um homem, que, assim como eu, tem música nas veias.