Resolvi escrever sobre o saudoso pianista, compositor e arranjador gaúcho, nascido em Porto Alegre, que considero como um dos meus pianistas favoritos. E que curiosamente, durante muitos anos, frequentou a cidade de Santos, inclusive tendo um apartamento bem próximo do Aquário Municipal no Canal 6.
Apesar de sua limitação visual, ele conseguiu desenvolver uma técnica e estilo bastante apurados. E seu estilo foi influenciado pelos pianistas de Jazz, Bill Evans, Oscar Peterson e o seu preferido, o gigante George Shearing.
No início dos anos 60, ele se mudou para a cidade de São Paulo, onde começou a aparecer no cenário musical, tocando Bossa Nova com seu trio no mítico Baiúca e também nos hotéis Jaraguá e Cambridge.
Já no ano de 1966, quando os Beatles estavam começando a aparecer no Brasil, Manfredo Fest já mostrava sinais da sua ousadia, gravando o incrível disco “Sambeatles”, pelo selo Fermata, com os clássicos da dupla imortal Lennon & McCartney, com a roupagem da Bossa Nova e do Samba – Jazz. Na época, um disco de formato pioneiro e que inspirou muitos outros, que vieram somente anos mais tarde.
No ano de 1967, mudou-se para os Estados Unidos para conhecer melhor o Jazz e no ano seguinte, em 1968, recebeu o importante convite de Sérgio Mendes, para participar como arranjador e tecladista do seu famoso grupo “Brasil 66”, depois chegando a fazer vários shows de abertura do grupo com o seu “Bossa Rio”, até o início dos anos 70, quando partiu para carreira solo.
Em solo americano, onde se fixou definitivamente, lançou discos preciosos e marcantes. Levou com ele, uma bossa brasileira sem igual, que, misturada ao Jazz, encantou o mercado americano.
Destaco seus lançamentos para o selo DMP Recordings, os CD's “Braziliana” (1987) e “Jungle Cat” (1989) e “Just Jobim” (1999), seu último e precioso lançamento e, para mim, um dos CD's tributos mais importantes que foram dedicados ao nosso Maestro Soberano, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.
A fase de gravações para o selo Concord Jazz, foi também muito inspirada e todos os seus discos merecem destaque: “Oferenda” (1994), “Começar de Novo” (1995), “Fascinating Rhythm” (1996) e “Amazonas” (1997).
Teve a sorte de ter uma afinada parceria com a sua esposa e também pianista e compositora Lili Fest e com seu filho, o guitarrista Phill Fest, com quem gravou diversos discos. Família bonita e extremamente musical.
Gostaria muito que Manfredo Fest tivesse maior reconhecimento no Brasil e que a sua discografia, muito rica e importante, estivesse disponível por aqui.
Um músico talentoso, ousado e que sempre levou, para todas as partes do planeta, a bandeira da afinada música brasileira.