ART KANE JAZZ PORTRAIT HARLEM 1958
ART KANE JAZZ PORTRAIT HARLEM 1958
A imagem que ilustra a coluna desta semana tem muita história. Ela está pendurada numa parede branca, em local de destaque, nos estúdios da Rádio Jornal da Orla/Digital Jazz, e a considero como um amuleto inspirador.
Explicarei melhor: nesta foto estão 57 dos principais músicos de Jazz, que foram reunidos para ilustrar a reportagem “The Golden Age Of Jazz”, do magazine americano “Esquire”.
Eles foram convidados pelo então desenhista talentoso Art Kane, que, apesar da ingenuidade e de nunca ter tirado uma foto profissional, conseguiu a proeza de registrar este segundo flagrante que entrou para a história. Precisamente 10h da manhã do dia 12 de agosto de 1958, em pleno verão, na frente de uma casa da rua 126th do Harlem em Nova York, entre a Fifth e Madison Avenues.
Ele, sem nenhuma pretensão, convidou todos aqueles “gênios”, e se surpreendeu com o resultado alcançado. A maioria dos músicos aceitou o convite e o resultado é esta belíssima e histórica imagem.
Lá estão: Count Basie, Art Blakey, Art Farmer, Dizzy Gillespie, Benny Golson, Coleman Hawkins, Hank Jones, Gene Krupa, Thelonious Monk, Charles Mingus, Gerry Mulligan, Lester Young, Maxine Sullivan, Marian Mcpartland entre outros nomes de peso. A foto foi publicada em janeiro de 1959.
Outro ponto curioso e marcante para mim foi a utilização dessa foto por Steven Spielberg no enredo do filme “O Terminal”, com o notável Tom Hanks e seu marcante personagem “Viktor Navorski”, que foi aos Estados Unidos especialmente para conseguir o autógrafo do saxofonista Benny Golson, último músico que faltava para completar a coleção de autógrafos dos artistas que ficavam guardados numa latinha, herdada de seu pai, um fã apaixonado do Jazz.
A mencionada foto usada no filme é esta que aqui hoje destacamos. Todas as vezes que vejo a cena final do filme chego a me emocionar, pois nesta vida já fiz muitas vezes o que aquele personagem da ficção fez, para poder chegar perto de vários de meus ídolos da música.
Para citar: George Benson, The Pizzarelli`s Boys: Bucky, John e Martin, Diana Krall, Tom Jobim, Ivan Lins, Rosa Passos, Dick Farney, Roberto Menescal, João Donato e por aí vai. Quantas emoções.
E, para encerrar, lembro-me que a foto também recebeu um excelente documentário do ano de 1994, feito pelo jazzófilo Jean Bach, contando vários detalhes da criação genial de Art Kane, com imagens raras, entrevistas, histórias e curiosidades.
Esta foto é um verdadeiro troféu para mim. Uma criação única de Art Kane, que considero imortal, e que, com certeza, está nas paredes dos fãs do Jazz espalhados pelo planeta e quem sabe até fora dele.
João Gilberto – “Amoroso”
Se você me perguntasse qual o disco de João Gilberto que mais me impressionou/marcou, responderia, sem hesitar, que é o “Amoroso”, originalmente lançado no ano de 1977 e, no formato de CD, dez anos depois pelo selo Warner Bros.
Lembro-me que a primeira vez que escutei o disco, no formato “bolacha”, tinha uns treze anos de idade e sempre o escutava por várias vezes sem cansar.
Primeiro o lado “A”, depois o lado “B” e vice-versa. Foi um daqueles casos de amor à primeira audição.
Sem dúvida, ele é um dos discos mais marcantes para ouvintes leigos como eu, e principalmente para vários músicos, que o consideram como referência, divisor de águas e muito mais. Um disco que se tornou uma obra universal. Merecidamente.
Foi gravado no período em que João Gilberto ainda residia nos Estados Unidos e contou com um repertório bem eclético, que se encaixou com perfeição à voz e ao seu violão, que teve uma levada mágica, inconfundível e incomparável.
Outro diferencial do disco que merece destaque, são os arranjos assinados pelo mestre Claus Ogerman (arranjador preferido de Tom Jobim), que trouxe uma ambiência musical exuberante de cordas. Sonoridade perfeita unindo uma afinada orquestra e uma cozinha jazzística com contrabaixo, teclados e bateria.
E não é preciso nem dizer que João Gilberto arrebentou cantando em português, inglês, espanhol e italiano.
Os temas “S'Wonderful”, “Estate”, “Tin Tin Por Tin Tin”, “Wave”, “Triste” e “Caminhos Cruzados” (que virou um hino para mim) são as que merecem ser ouvidas com a máxima e especial atenção.
Pode ser Jazz, Samba, Bossa Nova, pouco importa, apenas música feita com muito amor e talento por este gênio que revolucionou a música popular brasileira.
Rosa Passos – “Amorosa”
Ele é um, ela é outra, literalmente. Não existe nenhuma semelhança. Apenas três coincidências: ambos são baianos, artistas acima de qualquer suspeita e ela sempre teve ele como grande influência.
Falo isso, pois várias pessoas aproximam o estilo de Rosa Passos com o de João Gilberto. Nada a ver. São estilos distintos e muito diferentes para mim. Apesar da voz e violão muito comum na vida musical dos dois.
Prova disso é a sensível homenagem que Rosa Passos prestou a João Gilberto em “Amorosa”, lançado no ano de 2004, pelo selo Sony Classical e que até inclui uma inspiradíssima composição dela em sua homenagem.
Rosa Passos reuniu, em estúdio, Hélio Alves no piano, Paulo Paulelli no baixo, Paulo Braga na bateria e Cyro Baptista na percussão.
E trouxe convidados muito especiais: Yo-Yo Ma no cello, Paquito D'Rivera na clarineta, Rodrigo Ursaia no sax tenor e Henri Salvador nos vocais e contou com a produção do competente Jorge Calandrelli.
Destaco os temas “Você Vai Ver”, “Wave”, “Besame Mucho”, “Chega de Saudade”, “S'Wonderful”, a sua composição “Essa É Pr'o João” e a emocionante “Que Reste T-il De Nos Amours”.
O que diferencia este trabalho é que Rosa Passos recriou com muita inspiração os arranjos das quatro faixas que foram gravadas por João Gilberto em “Amoroso”.
E nos dá mostras nítidas de seu envolvimento emocional em cada palavra cantada. Rosa Passos é para mim uma diva, iluminada, simples, inventiva, inspirada. E também Doutora “Honoris Causa” pela Berkeley School Of Music, comenda conferida para poucos artistas.
Postado em: 20/07/2015
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