A MULHER DE BRANCO DA BOSSA NOVA
Na semana passada, recebi pela internet, do querido amigo Fabricio Spagnuolo, o link da matéria publicada no portal G1 Rio, escrita pela jornalista Lívia Torres, destacando Anamaria de Carvalho, conhecida como a Mulher de Branco de Ipanema. A história que li me emocionou, me motivando a pesquisar um pouco mais sobre a vida dela e sobre os mistérios que rondam sua personalidade. Resolvi, então, escrever algumas linhas sobre esta personagem que teve seus dias de glória nas décadas de 60 e 70 (pela beleza ímpar que lhe renderam o título de musa em diversos verões cariocas) e que, hoje em dia, anda sem rumo pelas ruas do bairro de Ipanema, fazendo performances e conversando com estranhos, desgastada pelo sol e pelo tempo. Tornou-se uma lenda urbana e quem já a encontrou pessoalmente, garante que não se esquece jamais. Uma destas pessoas que tiveram um destes encontros inesquecíveis, foi o jornalista Chico Canindé, que, no ano de 1994, viu Anamaria pela primeira vez andando no calçadão de Ipanema, toda vestida de branco, muito bronzeada e carregando uma rosa. Na oportunidade, ela lhe endereçou um sorriso largo e marcante. Motivado por este encontro, o jornalista decidiu anos mais tarde, mais precisamente no ano de 2009, ao lado do produtor e publicitário Álvaro Saad Peixoto, documentar a sua história e desvendar todos os seus mistérios. E o primeiro “take” do documentário foi feito no Bar Rex, localizado em Ipanema na Rua Vinicius de Moraes, numa entrevista com a protagonista. O trabalho, que levou 3 anos para ser finalizado, traz várias imagens do conhecido e badalado bairro da zona sul carioca, que serviu basicamente de cenário, além de trazer várias entrevistas, como a do cantor e compositor Lobão, a da atriz Guilhermina Guinle e a do jornalista e escritor Joaquim Ferreira dos Santos. Um grande detalhe: Chico Canindé bancou do próprio bolso as filmagens, montagem e finalização do projeto. Anamaria teve uma participação musical que merece respeito e foi introduzida pelo seu pai, Luis de Carvalho, um famoso radialista da época, muito bem relacionado no meio artístico. Seus amigos eram Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Tom Jobim (de quem foi vizinha no Leblon e em Los Angeles) e também andava com as musas Leila Diniz e Helô Pinheiro. Casou-se em 1965 com MarcosValle (ficaram casados até 1969) e com ele gravou o clássico “Samba de Verão”. Depois teve uma passagem pelo Brasil 65 de Sérgio Mendes, sendo uma das grandes divulgadoras da Bossa Nova no exterior. O tempo passou muito rápido para Anamaria, talvez muito em razão das drogas utilizadas por ela nos anos 70 (numa comunidade hippie de Arembepe na Bahia) e seu semblante se apresenta hoje muito marcado. Nem por isso, perdeu a doçura e a grande simpatia, além de carregar uma bagagem de vida considerável. Atualmente ela perambula pelas ruas dos bairros de Ipanema e Copacabana, carregando um carrinho de feira, falando em um celular imaginário e até mesmo falando sozinha. E não se veste mais de branco, agora somente de azul, graças à influência de uma música de Wilson Simonal, que diz na letra “Vesti azul, minha sorte então mudou”. Para ela ,“é a cor da nobreza celestial”. Hoje com quase 66 anos de idade (a ser completados em 15 neste setembro), parece uma moradora de rua, mas na verdade ela tem um belo e bem avaliado apartamento no Bairro de Ipanema, onde pousa diariamente apenas para dormir. E quis o destino que não fosse ela, e sim Helô Pinheiro, a musa de Tom e Vinícius para a famosa música “Garota de Ipanema”. E olha que ela bem que poderia ter sido a musa inspiradora da canção que virou um verdadeiro hino, cantada e gravada em todo planeta Terra. Beleza, simpatia e musicalidade não lhe faltavam.