O título completo do livro escrito pelo advogado (de profissão) e músico e compositor (por vocação) argentino Enrique Strega, destaca também: “Uma História de Vinícius a Piazzolla”.
Lançado em português pela Editora Argentina Corregidor, com 221 páginas, o livro curiosamente tem pequenas falhas na tradução, interessantes e até engraçadas, mas que não tiram a beleza e a complexidade do estudo sério e determinado feito pelo autor, um apaixonado pelas músicas da Argentina e do Brasil. A ideia para escrever o livro, unindo os dois países e os dois gêneros, surgiu quando Strega leu a biografia do músico argentino Astor Piazzolla, escrita por María Suzana Azzi e Simon Collier e numa frase pôde notar a admiração e a paixão do genial bandoneonista pela música brasileira e pelo Brasil, onde ele encontrou respeito e reconhecimento pela música de vanguarda que sempre executou.
E, curiosamente, ele teve mais destaque aqui no Brasil do que na própria Argentina. Sua música de vanguarda rompeu diversos paradigmas e como nossos “hermanos” são muito conservadores e tradicionalistas, sua música que literalmente transformou o Tango tradicional, ganhou naturalmente mais espaço em outros territórios.
Naquela leitura Enrique Strega marcou o ponto de partida da sua jornada e teve ali a inspiração para que pudesse mergulhar fundo na sua pesquisa para traçar um paralelo entre as duas culturas e as suas musicalidades, curiosamente interligadas.
Ele constatou muitas coincidências entre a Bossa Nova e o Novo Tango, como as críticas que surgiram quando do surgimento de ambos os movimentos, seus vínculos inegáveis com o Jazz, a postura política e a condição social dos seus criadores e a prova desse vínculo está marcada na forte e intensa amizade que uniu o nosso querido poetinha Vinícius de Moraes e Astor Piazzolla e é flagrante que esta admiração mútua foi transmitida para seus seguidores através dos anos.
Na primeira parte do livro, ele descreve “Os Movimentos”, detalhando os cenários históricos de Brasil e Argentina, “Que isso é Bossa Nova, que é muito natural”, a renovação na música popular argentina, as semelhanças e diferenças entre a Bossa Nova e o Novo Tango, a influência do Jazz e também a política e a arte.
Na segunda parte, ele destaca “Os Encontros”, citando a nova musa da Bossa Nova (Maysa Matarrazzo), que em 1961 levou para Buenos Aires Roberto Menescal, Bebeto Castilho, Hélcio Milito e Luiz Carlos Vinhas, que logo depois disso criaram o incrível Tamba Trio. Na oportunidade, eles foram apresentados como “os jovens de Copacabana” e pode ser considerada como a primeira saída internacional dos protagonistas da Bossa Nova. Depois tivemos a presença de João Gilberto em Buenos Aires em sua primeira visita no ano de 1962, meses antes da memorável apresentação do movimento no Carnegie Hall de Nova York.
No capítulo “Novo Tango no Brasil”, o autor descreveu que o Brasil, sua gente, sua música, provocaram uma fascinação particular nos músicos argentinos, e Astor Piazzolla viveu esse encanto com paixão e desfrutou de momentos inesquecíveis.
Por todo esse conteúdo, recomendo a leitura do livro que está recheado de grandes histórias descritas por quem realmente as viveu e que fortalecem ainda mais a importância dos movimentos da Bossa Nova e do Novo Tango.