A ALMA DE UMA ORQUESTRA – RIO JAZZ ORCHESTRA
Tive a sorte e o privilégio de ter sido criado desde pequeno, ouvindo em casa, as orquestras de Glenn Miller, Tommy Dorsey, Count Basie, Duke Ellington e de tantos outros líderes de orquestras, que tiveram na sonoridade encorpada e absolutamente mágica, a sua grande marca. Sempre tive a curiosidade de saber como funcionavam os bastidores, os ensaios, a escolha dos arranjos destas “Big Bands” e a minha curiosidade foi satisfeita no ano de 2008, com o lançamento pelo selo carioca Rob Digital, de um documentário brasileiro. Trata-se do DVD/CD produzido com muita competência pelos alunos, professores e profissionais de cinema da Universidade Estácio de Sá, da cidade do Rio de Janeiro, destacando a Rio Jazz Orchestra, uma das únicas e importantes orquestras brasileiras, que mescla a tradição e a modernidade, preservando os arranjos originais dos temas clássicos, ao mesmo tempo apresentando a evolução da sonoridade atual. A RJO foi criada no ano de 1973 e comandada por mais de 38 anos pelo médico cirurgião plástico, músico e maestro Marcos Szpilman, falecido no ano de 2011 e que tinha parentesco com o pianista Wladyslaw Szpilman, retratado no famoso filme “O Pianista”, do diretor renomado Roman Polanski. A ideia de organizar uma orquestra no Brasil foi ousada e é fruto da sua intensa paixão pela “Era das Big Bands”, que resultou num acervo considerável de mais de 1.500 arranjos feitos especialmente para a RJO. O documentário apresenta também os marcantes depoimentos dos grande músicos Danilo Caymmi, Leo Gandelman, Roberto Menescal e Victor Biglione, que destacam a importância do seu trabalho e da sua iniciativa de perpetuar para as gerações futuras a sonoridade marcante de uma grande orquestra. O ponto alto fica para a apresentação ao vivo da RJO composta por 19 músicos no auditório do campus da referida universidade, que leva o inspirado nome “Tom Jobim”, depois de inúmeros ensaios e de uma intensa dedicação do seu líder e dos seus comandados, músicos de grande qualidade e talento. A participação especial da cantora Taryn Szpilman como “crooner” da orquestra, merece o meu destaque. Ela é filha de Marcos Szpilman e a considero como uma das cantoras mais talentosas que surgiram nos últimos anos na cena musical brasileira. Ela literalmente “arrepia”, cantando os temas “Night and Day”, “The Song Is You” e “We`ll Be Together Again”. A primeira vez que a ouvi cantar ao vivo, foi no Festival de Jazz e Blues do balneário carioca de Rio das Ostras no ano de 2008. Fiquei impressionado com a sua voz potente e pela bela presença de palco. Ela sabe das coisas e nem poderia ser diferente. Está na alma e no sangue da família Szpilman. O repertório escolhido pela RJO traz os clássicos “Moonglow”, “Serenade In Blue”, “Georgia On My Mind”, “Stardust”, “As Time Goes By”, “All Of Me” e muitos outros temas conhecidos, que farão você se emocionar. Dividido em 2 partes, uma documental e outra musical, o documentário destaca de uma forma sensível a história de vida de Marcos Szpilman e o seu amor intenso pela música através da Rio Jazz Orchestra, que ele tão bem dirigiu por várias décadas. E atualmente Taryn Szpilman, uma cantora branca de alma negra, continua levando o nome da RJO pelo Brasil e exterior, e mantendo o legado deixado pelo seu pai em anos de doação e dedicação para esta orquestra, que é um patrimônio cultural de todos nós e que pode ser considerada como a única Orquestra de Jazz permanente do país.