O pianista, cantor e compositor Johnny Alf também pode ser considerado como um dos legítimos criadores da Bossa Nova e foi, sem dúvida, um dos músicos mais importantes do nosso país.
Recentemente li uma entrevista da querida amiga Herlinha de Souza, integrante do Clube do Choro, publicada no Jornal A Tribuna e ela afirmou taxativamente: “O papa da Bossa Nova foi Johnny Alf”. E ela sabe das coisas e está coberta de razão.
Alguns anos antes de se falar em Bossa Nova, nos anos de 53 e 54, ele já se apresentava no bar do Hotel Plaza no Rio de Janeiro e seu estilo de tocar nitidamente influenciado pelo Jazz (ele ouvia muito George Gershwin e Cole Porter), atraia vários fãs, na mioria músicos, que se acotovelavam para assisti-lo. Na sua lista de fãs de carteirinha, João Gilberto, Luiz Bonfá, João Donato, Luiz Eça, Sylvia Telles, Claudete Soares, Alaíde Costa, Lúcio Alves, Carlos Lyra entre outros nomes conhecidos. Até o nosso saudoso maestro Antonio Carlos Jobim se rendeu ao talento de Alf, com ele aprendendo muito sobre harmonia musical.
Seu estilo marcante de tocar foi determinante para a formação da levada característica da Bossa Nova. Suas criações “Rapaz de Bem” e “Céu e Mar” (revolucionaram os rumos da MPB nos quesitos melodia e harmonia), “Ilusão a Toa”, “Fim de Semana em Eldorado” e as minhas preferidas “Disa”, “O Que É Amar” e “Eu e a Brisa”. Ele indicou o caminho que todos deveriam seguir e naturalmente preparou o terreno para que isso acontecesse.
Depois de uma temporada em São Paulo (1955) ele voltou a se apresentar no Rio de Janeiro, já na fase da Bossa Nova (1962), no Beco das Garrafas, onde as boates Bottle’s, Baccarat e Little Club, reinavam absolutas.
Nos dias de hoje, na rua sem saída da Rua Duvivier, no bairro de Copacabana, onde o Beco das Garrafas existiu, está instalada bem na esquina, a bela loja de discos “Bossa Nova e Companhia”, local que merece uma visita obrigatória de várias horas. E parece que existe um projeto para revitalizar aquela área, que no meu entender, é patrimônio cultural da humanidade. Assim como o Cristo Redentor e o Pão de Açucar.
Um artista que conviveu muito com ele na intimidade foi o genial pianista Cesar Camargo Mariano, que ao lado da sua família o acolheu em sua casa no bairro da Saúde em São Paulo por oito anos. Em seu livro de memórias lançado recentemente, Cesar conta histórias incríveis do seu grande amigo, mentor e conselheiro Johnny Alf.
Um dos trechos mais emocionantes do livro, Cesar conta que ficava por horas e horas todos os dias vendo-o tocar, calado e detalha: “Aquela entrega dele ao piano, à música, ao detalhe de sua execução, aos acordes, ao ritmo trabalhado... a maneira como se deixava possuir, tranquila, profunda... o respeito que eu percebia que ele tinha pela arte... tudo aquilo foi entrando em mim, nota por nota, sentimento por sentimento”.
Tive a honra e o privilégio de assistir Johnny Alf aqui em Santos nas suas freqüentes visitas ao Bar da Praia, um dos espaços culturais mais importantes que a nossa cidade já teve, do querido amigo Eduardo Caldeira e que até hoje deixa saudades. Naquele palco, Alf fez shows memoráveis, tendo inclusive inspiração para a composição que homenageou o bar e que dizia: “Bar da Praia, Santos, SP, reduto musical... No Bar da Praia, Santos, SP, Caldeira percebeu, Que a minha inspiração gerou Você”.
Só lamento que Johnny Alf não tenha tido em vida o merecido reconhecimento do seu incontestável talento e pela sua real influência tanto para a Bossa Nova como para a Música Popular Brasileira.
E para provar sua grandeza e importância, cito novamente o nosso saudoso maestro Tom Jobim que o apelidou de “Genialf”. Perfeito e sublime.
Johnny Alf abriu o caminho da Bossa Nova e todos aqueles músicos geniais que o sucederam trilharam na clareira aberta por ele e construíram a história do gênero, que hoje é de toda a humanidade.
Um dos discos que mais gosto de Johnny Alf é este lançado em 1990 para o selo BMG/RCA e que contou nas 12 faixas com as participações especiais de Gal Costa, Roberto Menescal, Chico Buarque, Zizi Possi, Emílio Santiago, Caetano Veloso, Sandra de Sá, Gilberto Gil, Leny Andrade e o trompetista Márcio Montarroyos.
Foi uma rara oportunidade que estes grandes nomes da nossa MPB tiveram para reverenciar a obra musical de Johnny Alf, regravando algumas das suas principais composições. Ele tocou piano e cantou ao lado de seus grandes amigos de forma única e definitiva.
Não deixe de ouvir “Ilusão a Toa”, “Dois Corações”, “Nós”, “Rapaz de Bem”, “Olhos Negros”, a minha preferida “O Que é Amar” e mais “Eu e a Brisa” e “Bar da Praia”, feita em homenagem ao saudoso bar de Eduardo Caldeira.
O detalhe curioso deste disco, é que ele foi gravado depois de uma ausência dos estúdios de mais de 10 anos e por esta razão, considero este trabalho como uma verdadeira celebração a boa música e um dos trabalhos mais importantes da sua carreira de mais de 40 álbuns.
Johnny Alf foi um dos precursores da Bossa Nova ao lado do pianista e cantor Dick Farney e do cantor Lúcio Alves, e acima de tudo era um homem bem discreto, quase solitário, carinhoso e que deixou um legado musical maravilhoso.
Postado em: 13/05/2013
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