O jovem cantor Luiz Pié é mais uma grande prova de que a música tem o raro poder de transformar a vida das pessoas. E atualmente possui uma das vozes brasileiras mais surpreendentes que ouvi nos últimos tempos.
Ele acalenta o sonho de um dia cantar no Carnegie Hall e acredito muito que ele possa realizar esta façanha, pois talento e garra, aposto que ele tem de sobra. A sua bela história de vida comprova que não existem limites para ele. Viveu dos 3 aos 17 em um orfanato e desde cedo demonstrava interesse pela música.
Curiosamente, ainda quando estava no orfanato, ganhou de uma família americana uma caixa com 26 LP's e uma vitrola e lá pôde descobrir o Jazz e alguns cantores brasileiros como Gal Costa, Caetano Veloso, Nana Caymmi e Djavan. Anos mais tarde, frequentou as “lan houses” da vida, visitando os sites de Emílio Santiago, Dori Caymmi e Gilberto Gil.
Para sua sorte e merecimento, anos mais tarde, a mesma família americana que havia lhe presenteado o procurou para saber como estava aquele menino, lhe comunicando que estavam de mudança para o Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro e que eles patrocinariam o seu primeiro disco.
Ele se preparou para este momento. Estudou música popular, visitou e estudou o repertório da Bossa Nova, Samba e MPB para criar sua identidade musical. E assim, com a cara e a coragem, Luiz Pié ao final de um show de Marcos Valle e Roberto Menescal pediu, para este último, que queria gravar um CD.
Depois de uma semana daquele encontro meteórico e definitivo, estava ele no estúdio Albatroz, de Menescal, gravando as primeiras músicas.
Lá estavam no violão Wilson Lopes, no piano Adriano Souza, no contrabaixo Adriano Giffoni e Beto Lopes, no acordeom Christiano Caldas, na bateria João Cortez e nos arranjos, regência e guitarra Roberto Menescal. E como convidado especial, em uma faixa, simplesmente Milton Nascimento. Time simplesmente perfeito.
Seleciono “A Volta”, “O Bem e o Mal”, “Abajur Lilás”, “Fim de Caso”, “Sabe Você”, “Manhã de Carnaval”, “Pai Grane” e a faixa título “Memória Afetiva”. O seu timbre grave, aveludado e extremamente afinado, mostram que temos saída na nova safra da nossa MPB.
Ao ouvir sua voz, é impossível não lembrar o saudoso Emilio Santiago. Isso é inevitável e tomara que Luiz Pié consiga tirar proveito deste timbre vocal especial que ele tem, encontrando seu verdadeiro caminho musical.
O CD de estreia lançado pelo selo carioca Fina Flor, com 12 faixas, foi um excelente começo.